quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pequena Biografia...



Nasceu no Rosmaninhal, uma pequena vila sede de freguesia, do concelho de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, no dia 15 de Março de 1927.
Neto de pastores (avós maternos) e de agricultores (avós paternos), sentia muito orgulho na sua gente e origens.
Sua mãe, Joaquina Caldeira, era a filha mais velha de João Martinho Freixo e de Teresa Caldeira, pastores de ovelhas dos proprietários da região. Nunca foi à escola, não sabia ler nem escrever, mas era uma Senhora, com o comportamento de quem sabia o que a Vida valia. Soube educar dois filhos (o meu pai, o mais velho, e o seu irmão João), dando-lhes uma Educação que muita gente “fina e culta” não tem.
Faleceu depois do filho, com 92 anos de idade.
Seu pai… Ah! O seu pai… Aleixo Torres… Era o 3º filho de António Torres e de Maria Cardosa, agricultores pobres, que viviam de uma agricultura de quase subsistência, mas com honra, trabalho e esforço, conseguiram adquirir algumas casas rústicas e terrenos de cultivo.
Era Guarda Fiscal, pouco tempo tinha para dar apoio aos filhos, mas esse pouco tempo era tão precioso, tão rico, que nos enchia a alma e nos despertava para a procura do desconhecido. Era um desses filósofos populares, anónimos, como muitos que passam despercebidos. Eu tive a sorte de ter sido criada até aos 5 anos, com este meu avô, já reformado, que me ensinou muita coisa sobre a Vida, e ainda hoje sinto saudades dos momentos passados com ele.
E foi deste meu avô que meu pai herdou o gosto pela escrita, a curiosidade do “aprender”, a vontade de pesquisar…
E foi nesta família que nasceu António Torres Caldeira, meu Pai!
Criado até aos 10 anos na Figueira da Foz, onde fez a 4ª Classe, a família passa depois para Lisboa, onde meu Pai frequenta a Escola Industrial Afonso Domingues, em Xabregas. Aí concluiu o Curso de Desenho.
Faz tropa em Évora, como furriel miliciano, em 1947.
Casa em Setembro de 1952 com Maria José Pereira Lobato, também nascida no Rosmaninhal, uma mulher extraordinária, com mãos de fada, paciência de santa, um coração cheio de amor que transborda pelos olhos e uma alegria contagiante. É esta mulher, a minha mãe, que o acompanha toda a vida (44 anos) na alegria e na tristeza, nas horas boas e más, nos sobressaltos e sossegos.
Em Agosto de 1953 nasço eu, filha única, “menina dos olhos” do pai, que me soube educar com amor e respeito.
Em 1960 o meu pai é convidado para pertencer à Brigada de Estudos do Porto de Luanda, para onde embarca com a família.
Suportou em Angola duas guerras: 1961 e 1974/75.
Não enriqueceu, não explorou ninguém, nem nunca o vi deixar de ser humano para com todos.
Em 1975 regressa a Portugal na “Ponte Aérea” (voo 32) em 17 de Agosto e integra os Adidos (Funcionários Ultramarinos no Activo).
Em 1976 faz parte do grupo inicial que cria o GAT (Gabinete de Apoio Técnico) na Sertã, onde se manteve até à Reforma (65 anos de idade e 36 anos de serviço)
Durante toda a minha vida tive a sorte de conviver diariamente com estas almas, tão ricas de sentimentos.
Após a Reforma, inicia a escrita de um trabalho que ele próprio intitula “Monografia da Beira Baixa”.
São assim os dias de meu Pai.
Leitura e escrita.
Um autodidacta.
Em 27 de Outubro de 1997, morre a mulher que o acompanhou sempre e que era a “alma” da casa.
Meu pai não resiste ao desgosto:
Definha dia a dia.
Até que, em 29 de Dezembro de 1998 fecha para sempre os seus bonitos olhos grandes e verdes.
Fiquei só.
Agarro-me às recordações deixadas por ele nos manuscritos que encontro.
Que esta compilação do seu trabalho sirva para que os seus bisnetos saibam que Homem foi o seu Bisavô!

1 comentário:

Helder Ponte disse...

Letinha,

Parabéns!

Que bom teres criado hoje um blog para os trabalhos não publicados do teu Pai. Puxa minina... e que bela nota biográfica tu escreveste! Não nos dá somente um insight (focus?) na pessoa, mas também no espaço (Portugal e Angola) e no tempo (sete décadas até ao final do século passado).

Como teu aluno, dou-te os meus parabéns por mais uma aula tão bem dada. Cobriste não só a pessoa, mas também a família, na qual o amor, o respeito, a educação e a civilidade foram sempre os seus fundamentos sólidos. Deste-nos ainda a conhecer a razão porque sempre foste e sempre serás a “menina dos olhos” do Pai.

Sinto-me ansioso por ler mais trabalhos do teu Pai, como também apreciar os desenhos de tua Mãe. Em certa medida, os seus escritos e desenhos são a janela para um passado pelo qual sinto uma fascinação extraordinária.

Bem Hajas, querida Amiga, por mais esta tua dádiva tão pessoal. Continua a brindar-nos com o teu infinito talento e humanidade tão genuína.

Um beijo fraterno,

Helder