sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Monsanto II



O Castelo e suas muralhas
A festa de 3 de Maio


Perde-se nos tempos a data da sua construção, muito anterior à Era Cristã; o que se sabe de positivo é que a sua reconstrução data de meados do séc. XII, mandada fazer pelo Grão-mestre dos Templário, Gualdim Pais. Possuía robustas muralhas que o tornavam quase inexpugnável.
Segundo um curioso desenho da época, tinha cinco torres de que ainda existem vestígios. Duas dessas torres, as extremas, deram certamente origem ao dito espanhol:
Monsanto, Monsanto
Orejas del mulo
El que te ganar
Conquistar puede el Mundo
Entrando pelo lado poente e deixando à esquerda o resto da antiga freguesia de S. Miguel, começava o recinto fortificado da “Casa da Guarda”, que está quase intacta e que tem interessantes seteiras; desta transitava-se por uma ladeira, também intra-muralhas, para um largo muito maior que Guilhermino de Barros romantizou como o “picadeiro da época”. Este tinha uma cisterna para abastecimento de água potável. Daqui, passa-se à sua Torre de Menagem, excelente vigia para os lados de Espanha, e para uma pequena porta para sortidas – Porta Falsa – mascarada pelos penhascos que lhe ficam em frente. Há ainda duas canhoeiras para a artilharia existente na fortaleza.
Deste largo cujas muralhas eram altas, fortíssimas e muito perfeitas, sobretudo pela parte exterior, subia-se ao último reduto, no ponto mais elevado, onde se encontrava o paiol da pólvora.
Uma explosão deste, no princípio do séc. XIX, fez aluir quase todo o castelo e a muralha que o cerca ficou muito danificada.
Havia ainda, a cercar as freguesias de S. salvador e S. Miguel, uma outra muralha mandada construir pelo Conde de Lippe no séc. XVIII, com duas entradas: Santo António e Espírito Santo.
Todas estas ordens de muralhas tinham o respectivo portão de entrada, onde o roçar das trancas de ferro deixou bem marcado o seu trabalho.
A Igreja Matriz da freguesia de S. Miguel era a Capela Românica de S. Miguel (séc. XII), obra que por si só justifica uma visita ao castelo de Monsanto.
Tem um pórtico notável, o côvado (medida da época) do lado direito, cachorros muito interessantes na cornija, todos diferentes e, extraordinariamente, na fachada direita, as sepulturas dos Fidalgos – os governadores da Praça – marido e mulher. Junto a estas, ardeu durante muitos anos, uma luz votiva. Mais atrás, na mesma fachada, está o túmulo dos Priores.
Foi nesta Igreja que ajoelhou D. Afonso V quando da sua estada em Monsanto.
Ao lado, o campanário para dois sinos, e em volta o cemitério com sepulturas cavadas na rocha.
Quem visitar o Castelo deve seguir até encontrar as 13 tigelas, onde a tradição popular quer que a fidalga desse de comer aos seus pobres, e vir passar por baixo dos “Penedos Juntos”, dois blocos descomunais de granito que se encostam um ao outro.
Ao castelo e à sua História Militar anda ligada a tradição de um feito que o povo de Monsanto festeja a 3 de Maio.
- Há muitos anos a moirama, depois de vencida e arrasada Idanha-a-Velha, voltara as suas atenções para o vizinho Castelo de Monsanto e pusera-lhe cerco apertado.
Longos meses se passaram e já os mantimentos escasseavam em absoluto. Aos defensores do velho burgo ocorre então um estratagema: alimentam a última vitela que possuíam com o alqueire de trigo que lhes restava. Chegam-se depois às muralhas, chamam o comandante do exército atacante e atiram-lhe com a vitela que, ao desfazer-se no solo, mostra o trigo que havia comido.
Esta suposta abundância de víveres desanima o mouro que levanta o cerco.
Os monsantinos nunca mais esqueceram este facto e o seu nacionalismo os tem levado todos os anos em 3 de Maio ao castelo para,do ponto mais elevado, deitarem sobre os rochedos um pote – que simboliza a vitela – cheio de flores – o trigo – com que a tinham alimentado. Dançam depois toda a tarde e, no regresso, levam para casa as marafonas ou Maia (bonecas de trapos ou farrapos) que tinham trazido e deitam-nas sobre as camas. Ficam assim livres de lhes cair alguma faísca em casa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Monsanto I



Origem do nome – Situação
Breve resumo da história militar do Castelo



O nome de Monsanto dado a esta aldeia, recentemente mudado para Monsanto da Beira para a distinguir das suas homónimas que são várias no país, é “de época mui remota. O local deve ter sido sagrado (Mons Sancti) e para a santidade do lugar contribuiu, sem dúvida, a própria forma do monte que a grande distância avulta solitário e chama a atenção entre os que o circunvizinham”. (Prof. Leite de Vasconcelos)
Situada no concelho de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, a actual aldeia de Monsanto assenta a dois terços do monte do mesmo nome, isto é, a pouco mais de 500 metros de altitude, pois que o monte atinge na sua maior altura cerca de 800 metros.
Três idades diferentes marcam a situação da aldeia:
Nos primeiros tempos da sua existência, estava situada em volta do recinto fortificado – freguesia de S. Miguel. Além da sua Igreja Matriz, possui esta freguesia mais 3 capelas: S. João, Senhora do Castelo e a de S. Domingos.
Mais tarde desceu a população para onde se encontra actualmente a aldeia e formou a freguesia de S. salvador.
Recentemente tende a espalhar-se pelos campos, devido ao aumento da população (mais de 4.000 habitantes em 1945), dando origem aos lugares anexos de Relva, Eugénia, Cidral, Carroqueiro, Adingeiro, Lagar de Maria Martins, Lagar de Junho, Torre e Devesa, alguns já bastante populosos.
As freguesias de S. Miguel e S. salvador coexistiram durante muitos anos e desde há muito tempo.
Foi Monsanto condado e praça-forte de categoria e o seu castelo que ainda existe em ruínas gloriosas, teve uma história militar das mais brilhantes.
Já anteriormente à Era Cristã, este castelo foi cercado pelos romanos, sendo a sua defesa entregue a Sertório. Só se rendeu depois de mortos quase todos os seus defensores.
Em 1658, D. Luiz de Haro, ministro de Filipe IV de Castela, cercou-o também, desta vez inutilmente, pois que teve de levantar o cerco, incomodado pelas mortíferas sortidas dos defensores.
Em Maio de 1704 foi novamente sitiado pelas forças do duque de Berwick, que depois de tomarem Salvaterra e Penha Garcia, tentaram fazer render Monsanto sem combate. A isso se opôs tenazmente o governador da praça que, com a sua exígua guarnição militar, resistiu enquanto pode. O exército franco-espanhol entrou na fortaleza depois de ter morto todos os seus defensores, tendo o governador caído com um golpe vibrado no crânio.
Este desastre foi pouco depois vingado pelo Marquês das Minas que se encontrava em Almeida e que acorreu logo que o soube, a marchas forçadas em auxílio das forças que operavam perto de Monsanto.
Infringiu uma pesada derrota a D. Francisco Ronquillo, delegado de Berwick, no “vale da Matança” e, assaltando e conquistando o Castelo, mandou passar a fio de espada toda a guarnição que se lhe entregara quase sem combate.
Fechou com esta página a sua história, este lendário castelo que era uma maravilha de arte do seu tempo.

Monsanto - Idanha-a-Nova



Como o visitante deve ver
MONSANTO



Apeando-se do automóvel junto ao Cruzeiro da Igreja, como geralmente se faz, deve começar por visitar a Igreja Matriz, que fica em frente. De notável encontra nela os altares Renascença, os laterais sob baldaquinos, os túmulos dos priores do séc. XVII com as respectivas inscrições. Possui bonitas imagens.
Esta igreja data do séc. XV.
Perto dela está a actual residência do pároco, bonita casa em estilo português, e mais acima, no começo da Rua Direita, o antigo solar da Família Pinheiro (séc. XVII).
Segue por esta rua até à Praça e daí até à Barreira do Relógio, donde se desfruta um vasto panorama. Pode ir visitar a Torre Sineira (séc. XV) e, voltando à Barreira, dar um passeio pelo bairro antigo, onde lhe mostrarão casas seiscentistas com curiosas cantareiras.
Em seguida subirá ao Castelo pela Rua da Pracinha e deve entrar nele pala Casa da Guarda que tem à direita do pórtico uma curiosa inscrição do séc. XII. Segue até à “cidadela” onde se vê a cisterna, a Torre de Menagem e a Porta Falsa e depois até ao ponto geodésico de onde se disfruta o panorama mais vasto de toda a Beira Baixa.
Dali avista: Castelo de Vide, Castelo Branco, Covilhã, Guarda, Sabugal e Penamacor para o lado português e S. Martin de Trevejo, Cacillas de Cória, Brozas até à longínqua serra de Bejar, para o lado de Espanha, se o dia estiver claro.
Regressa depois pelo caminho inverso até chegar à Casa da Guarda e segue até à Igreja românica de S. Miguel, deixando à sua esquerda as ruínas da antiga freguesia do mesmo nome.
Junto à Igreja há o campanário e o cemitério da época.
Voi depois passar junto às “13 tigelas”, onde a tradição popular diz que a fidalga dava de comer aos pobres. As ruínas que ficam à direita das “tigelas” são da casa dos governadores.
Por uma vereda que torce para o poente e depois para o norte, vai passar por baixo dos “Penedos Juntos” e entra na povoação pelo lado nascente. Se o tempo lho permitir, não deixe de ir visitar a Igreja de S. Pedro de Vir-a-Corça. É também do séc. XII. Tem uma rosácea lindíssima, notáveis colunas, campanário ao lado e o sítio é muito aprazível,
A capela-mor está dividida em 3 recintos completamente isolados para aí, segundo os usos da época, se realizarem as audiências judiciais.
É a jóia arquitectónica de Monsanto.
Os meses do ano em que convém visitar Monsanto são aqueles em que os dias costumam ser mais claros e a temperatura mais agradável: Maio, Setembro e Outubro.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Meus Amigos

Meus Amigos...

Estando já descrito, e muito bem, num outro blog dedicado à vila do Rosmaninhal, a festa de S. João, deixo aqui um link de forma a poder ser consultado.

Na altura do S. João, os naturais desta vila de Idanha-a-Nova só não estão presentes na festa, se lhes for totalmente impossível!


http://rosmaninhal.no.sapo.pt/usosecostumes.htm

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Cancioneiro Popular



Cancioneiro Popular


O Cancioneiro Popular da região da Beira Baixa também referem a alimentação:


Não posso comer sem garfo

Nem galinha sem limão

Não posso tirar os olhos

Donde os meus amores estão


O meu amor é padeiro

Traz a cara enfarinhada

Os beijos sabem-me a pão

Não quero comer mais nada


Dai-me vinho, dai-me vinho

A água não posso beber

A água da fonte tem limos

Tenho medo de morrer


à cabeceira, toucinho

Aos pés, chouriço assado

Diga-me lá, ó menina

Se estou mal acompanhado


Dá-me da pera madura

E da maçã, uma talhada

Da laranja um gominho

Do limão não quero nada


Julgas que morro por ti?

Engana-te o coração

Eu nunca fui rabaceiro

Da fruta que cai no chão


Quatro castanhas assadas

Quatro pingos de aguardente

Quatro beijos de uma moça

Fazem um homem contente


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Adágios...





Adágios e Expressões




Também a alimentação é homenageada com Adágios e Expressões populares que revelam conceitos de um saber feito de experiência.


Alguns dos mais originais:




Barriga vazia não conhece alegria.


Guardado está o bocada para quem o há-de comer.


Quem em Maio não merenda, aos mortos se encomenda.


Barriga de pobre, antes arrebente do que sobre.


Come-se a perdiz com a mão no nariz.


Ovelha que berra, bocado que perde.


Pão quente, faz mal ao ventre.


Não digas desta água não beberei, nem deste pão não comerei.


Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte aos olhos.


Ano de nevão, ano de pão.


Pelo S. Martinho, rebusca o teu soitinho.


Dia de S. Tiago, vai à vinha e prova o bago.


Dia de S. Lourenço, vai à vinha e enche o lenço.


Pelo Stº André, agarra o porco pelo pé.


O pisco em Janeiro, vale os quartos de um carneiro.


Em Janeiro, um porco ao sol e outro no fumeiro.


Pelo S. Marcos, os sáveis enchem os sacos.


O azeite, o vinho e o amigo, o mais antigo.


O primeiro copo bebe-se inteiro, o segundo até ao fundo, o terceiro como o primeiro e o quarto como o segundo.


O azeite e o vinho, um ano é teu outro do vizinho.


A fome e o frio metem a lebre ao caminho.


Pelo S. Martinho, mata o teu porco, prova o teu vinho e não te esqueças do teu vizinho.


Antes a face com fome e amarela do que a vergonha nela.


Comer e beber e fazer para o ter.




Outros pratos...




Outros pratos...

O peixe do rio não assumiu grande importância na alimentação do dia-a-dia. Contudo, tal hábito está a modificar-se e tem já um certo significado a pesca nos rios com água durante todo o ano, como o Tejo, o Zêzer, o Ponsul, o Aravil, etc.
Os peixes mais comuns são: o barbo, a boga, a carpa, o lúcio e o achigã.
Nas ribeiras de águas frias nas faldas da Serra da Estrela, tem significado a truta, recentemente incrementada pela construção de instalações adequadas, representando uma fonte importante de proteína natural, cada vez mais apreciada na região.

Também se consome aguardente e jeropiga.
Embora cada vez mais raro, ainda há o "mata-bicho" com aguardente logo no começo do dia. Com a jeropiga e água-pé comem-se as castanhas assadas e as passas de figos (figos secos).

E para finalizar, ou melhor, para a sobremesa, vai a doçaria, que embora não tenha constituído elemento regular e normal na alimentação corrente, tem vindo a aumentar a sua produção e consumo.
O Arroz Doce, servido em travessas, figura obrigatóriamente nas festas de família ou nos casamentos (bodas).
O leite-creme e as papas de milho (carolo) são também muito habituais. As papas de milho estão ligadas a certas festividades, como sejam os Santos, e mesmo a acontecimentos colectivos.
A coalhada, o requeijão ou travia, o leite com botelha (abóbora) e o caldudo (castanhas secas, cozidas em leite) são também elementos importantes na doçaria
A aletria, a taborna ou tiborna (pão molhado em azeite ou vinho e açúcar) constituem referências significativas.




O pão-leve (pão-de-ló), as cavacas, os cuscuréis, os folares, as amêndoas roladas, os sonhos, os suspiros, as espumas ou farófias, os ovos de fio, a palha de padre e as tijeladas, fazem parte da doçaria tradicional com enormes potencialidades.