domingo, 18 de maio de 2008

A Gastronomia da Beira Baixa



A gastronomia


A província da Beira Baixa também é riquíssima na sua regionalidade gastronómica.

O seu património gastronómico não pode deixar de ser a influência do solo e do clima, mostrando como o Homem se relaciona com a Natureza.

Como refere Jaime Lopes Dias, na sua compilação "Etnografia da Beira" (11 volumes), os antigos tinham a mesa como sagrada e é à sua volta que a família se reúne e se estreita a amizade a e hospitalidade.

Estrabão, ao referir-se aos Lusitanos, escreveu: "Comem principalmente carne de cabra e na quarta parte do ano, os montanheses não se mantêm senão de bolotas, que secas e trituradas, transformam em farinha da qual fazem pão, o qual pode guardar-se durante muito tempo".

Não restam dúvidas de que o modo de produção e os próprios produtos da economia de subsistência que marcaram esta região durante muitos séculos, moldaram a alimentação.

Dando um salto para os finais do séc. XIX, quando o rei D. Carlos se deslocava à Beira Baixa para a caçada ao javali, o seu ajudante, General Filipe Malaquias de Lemos, conhecedor da região, recomendava em relação ao que o rei devia comer:

"... acho de primeira ordem a orelheira, a miga e o feijão frade e tudo o mais que for beirão...

No menu, falta fruta e talvez uma morcelinha assada no espeto estivesse a calhar!

Não vale a pena ir peixe de Lisboa.

É preferível arranjá-lo aí no Ponsul ou no Tejo...

Comidas e bebidas...tudo daí, com o pão das Beiras e o vinho da terra... " *


De facto, foi à volta dos produtos da região que se foi enriquecendo a criatividade e o engenho gastronómico da população da Beira Baixa, dentro da fragilidade e temperança que caracterizou o viver da nossa gente.

Quanto ao pão, elemento essencial das refeições da Beira Baixa, era feito até há pouco tempo, sobretudo de farinha de centeio, tendo sido antes utilizada a bolota, a castanha e a farinha de milho (broa).

A par da importância do pão, está a sopa ou o "caldo" que, cozido lentamente na panela de ferro no lume da lareira, juntando a batata e os legumes da horta e secos, cebola e alho, temperado com carne de porco (da salgadeira ou enchidos) ou apenas com azeite, constitui um alimento substâncial e muito saboroso.

Em relação à fruta, para além da fresca (maçãs, pêras, cerejas, pêssegos) o destaque vai para a azeitona, a castanha (cruas, cozidas, assadas ou piladas) os figos maduros ou secos (passas de figos) as bolotas de azinho (que ainda hoje se assam ou cozem como as castanhas e são um verdadeiro pitéu) e os medronhos.


* - Jaime Lopes Dias - "O Rei D. Carlos na Beira", pág. 11


1 comentário:

Dulce Rodrigues disse...

Letinha (este é certamente um diminuitivo mas não consegui ver qual é o seu verdadeiro nome), por acaso vim ter ao seu blogue. Obrigada pelas suas palavras sobre o seu pai, não o conheci mas admiro-o através do seu olhar de filha. Temos ambas opiniões muito semelhantes sobre a vida. Um abraço e felicidades.
Dulce Rodrigues
www.dulcerodrigues.info
www.barry4kids.net