A região da Beira baixa viveu muito isolada durante séculos. Os usos e costumes passavam de pais para filhos pelo exemplo das suas práticas, enquanto as lendas e tradições iam sendo transmitidas ao serão, junto à lareira.
Essa situação está hoje muito alterada pelos factores do progresso. Há, no entanto, ainda usos e tradições de raízes tão profundas que têm conseguido sobreviver.
Pelo Natal é costume queimar-se, no adro da Igreja, um grande madeiro (1) que se destina a aquecer o Menino que vai nascer e evitar que haja gente com frio nessa noite (2)
.http://dias-com-arvores.blogspot.com/2004/12/madeiro-do-natal.html
A forma de encontrar o “madeiro” varia de terra para terra. Em algumas, faz parte da tradição que seja roubado, noutras é alguém que o oferece, por promessa.
No primeiro caso, e para que não se saiba quem o roubou, vão de noite, os homens embuçados e cobrem com mantas os bois que puxam o carro (hoje, esta prática está em desuso. Nas terras que ainda acendem o madeiro, este é trazido pelos grandes proprietários em tractores e colocado no adro da Igreja). Em algumas terras da raia, era costume os moços mancebos (3) saltarem a fronteira para roubarem o madeiro do lado espanhol.
À meia-noite, em todas as povoações, o povo aproximava-se do madeiro acesso, dançavam e cantavam em redor da fogueira e provavam as filhós (4).
Nos concelhos onde não era costume queimar-se publicamente o madeiro, fazia-se em cada casa uma bela fogueira na lareira, que ficava a arder toda a noite. Deixavam também a candeia acesa e a mesa posta com filhós, para quando o Menino chegasse, poder encontrar agasalho.
(1) – Madeiro – Normalmente composto por grossos e volumosos troncos dos sobreiros mais secos, velho e carcomido e que já abrigou, no seu seio, dezenas de gerações
(2) O calor emitido pelo braseiro era tal, que chegava a fazer arder as portas das igrejas…todo o adro ficava aquecido… Há ainda hoje povoações onde o tradicional madeiro faz parte integrante do Natal, como o Presépio e a respectiva árvore (pinheiro enfeitado).
(3) Mancebos – o grupo de rapazes que entravam nesse ano para a recruta militar eram que estava encarregue de “roubar” o Madeiro… Na raia com Espanha, a aventura consistia em passar a fronteira (clandestinamente) e trazer o madeiro previamente localizado e escolhido (o que implicava várias idas ao território vizinho). Esta tradição, provavelmente, remonta à Idade Média, representando a eterna rivalidade entre Portugal e Espanha.
(4) Filhós – Tipo de doçaria própria do Natal. Desde o amassar até à fritura, era o trabalho das mulheres, enquanto os homens tratavam do madeiro.
1 comentário:
Ainda hoje, na Riscada e no Juncal aldeias do concelho de Vila Velha de Ródão se colocam madeiros a arder para aquecer o menino ;)
Parabéns
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