sexta-feira, 23 de maio de 2008

Cancioneiro Popular



Cancioneiro Popular


O Cancioneiro Popular da região da Beira Baixa também referem a alimentação:


Não posso comer sem garfo

Nem galinha sem limão

Não posso tirar os olhos

Donde os meus amores estão


O meu amor é padeiro

Traz a cara enfarinhada

Os beijos sabem-me a pão

Não quero comer mais nada


Dai-me vinho, dai-me vinho

A água não posso beber

A água da fonte tem limos

Tenho medo de morrer


à cabeceira, toucinho

Aos pés, chouriço assado

Diga-me lá, ó menina

Se estou mal acompanhado


Dá-me da pera madura

E da maçã, uma talhada

Da laranja um gominho

Do limão não quero nada


Julgas que morro por ti?

Engana-te o coração

Eu nunca fui rabaceiro

Da fruta que cai no chão


Quatro castanhas assadas

Quatro pingos de aguardente

Quatro beijos de uma moça

Fazem um homem contente


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Adágios...





Adágios e Expressões




Também a alimentação é homenageada com Adágios e Expressões populares que revelam conceitos de um saber feito de experiência.


Alguns dos mais originais:




Barriga vazia não conhece alegria.


Guardado está o bocada para quem o há-de comer.


Quem em Maio não merenda, aos mortos se encomenda.


Barriga de pobre, antes arrebente do que sobre.


Come-se a perdiz com a mão no nariz.


Ovelha que berra, bocado que perde.


Pão quente, faz mal ao ventre.


Não digas desta água não beberei, nem deste pão não comerei.


Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte aos olhos.


Ano de nevão, ano de pão.


Pelo S. Martinho, rebusca o teu soitinho.


Dia de S. Tiago, vai à vinha e prova o bago.


Dia de S. Lourenço, vai à vinha e enche o lenço.


Pelo Stº André, agarra o porco pelo pé.


O pisco em Janeiro, vale os quartos de um carneiro.


Em Janeiro, um porco ao sol e outro no fumeiro.


Pelo S. Marcos, os sáveis enchem os sacos.


O azeite, o vinho e o amigo, o mais antigo.


O primeiro copo bebe-se inteiro, o segundo até ao fundo, o terceiro como o primeiro e o quarto como o segundo.


O azeite e o vinho, um ano é teu outro do vizinho.


A fome e o frio metem a lebre ao caminho.


Pelo S. Martinho, mata o teu porco, prova o teu vinho e não te esqueças do teu vizinho.


Antes a face com fome e amarela do que a vergonha nela.


Comer e beber e fazer para o ter.




Outros pratos...




Outros pratos...

O peixe do rio não assumiu grande importância na alimentação do dia-a-dia. Contudo, tal hábito está a modificar-se e tem já um certo significado a pesca nos rios com água durante todo o ano, como o Tejo, o Zêzer, o Ponsul, o Aravil, etc.
Os peixes mais comuns são: o barbo, a boga, a carpa, o lúcio e o achigã.
Nas ribeiras de águas frias nas faldas da Serra da Estrela, tem significado a truta, recentemente incrementada pela construção de instalações adequadas, representando uma fonte importante de proteína natural, cada vez mais apreciada na região.

Também se consome aguardente e jeropiga.
Embora cada vez mais raro, ainda há o "mata-bicho" com aguardente logo no começo do dia. Com a jeropiga e água-pé comem-se as castanhas assadas e as passas de figos (figos secos).

E para finalizar, ou melhor, para a sobremesa, vai a doçaria, que embora não tenha constituído elemento regular e normal na alimentação corrente, tem vindo a aumentar a sua produção e consumo.
O Arroz Doce, servido em travessas, figura obrigatóriamente nas festas de família ou nos casamentos (bodas).
O leite-creme e as papas de milho (carolo) são também muito habituais. As papas de milho estão ligadas a certas festividades, como sejam os Santos, e mesmo a acontecimentos colectivos.
A coalhada, o requeijão ou travia, o leite com botelha (abóbora) e o caldudo (castanhas secas, cozidas em leite) são também elementos importantes na doçaria
A aletria, a taborna ou tiborna (pão molhado em azeite ou vinho e açúcar) constituem referências significativas.




O pão-leve (pão-de-ló), as cavacas, os cuscuréis, os folares, as amêndoas roladas, os sonhos, os suspiros, as espumas ou farófias, os ovos de fio, a palha de padre e as tijeladas, fazem parte da doçaria tradicional com enormes potencialidades.

domingo, 18 de maio de 2008

Pratos de Carne



Pratos de carne


Quanto à carne, o porco que foi rei e senhor, ainda mantém um lugar de destaque, embora os genuínos cabritos e borregos façam as delícias dos mais exigentes, sendo também de referir a crescente disponibilidade da saborosa carne de javali.


Os maranhos (miúdos de cabrito ou de carneiro e outras carnes, como presunto, paio) bem temperados com pimenta e hortelã, constituem a especialidade da zona sudeste da região - zona do pinhal.


O sarrabulho ou sarapatel (cozinhado com miúdos de porco) é muito típico por alturas das matanças.


A carne de galinha e de coelho, quando criação de casa agrícola, são muito saborosas e lá diz a sabedoria popular: "Cautelinha e caldos de galinha não fazem mal a ninguém".


A caça foi uma grande fonte de carnes, muito apreciada, com destaque para os coelhos bravos, lebres, perdizes, pombos e patos bravos, tordos, rolas, galinholas e codornizes.


Sendo a perdiz uma das espécies mais apreciadas, é interessante referir o que o saber do povo conta sobre o seu ciclo de vida:


"Em Janeiro, busca o parceiro.

Em Fevereiro, faz o rapeiro.

Em Março, faz o covacho.

Em Abril, enche o covil

Em Maio, pipi para o mato

Em Junho, maior que um punho

Em Julho, enche o certulho

Em Agosto, toma-se-lhe o gosto..."

A sopa na panela de ferro



Poejo

A sopa na panela de ferro

A velha panela de ferro, tão negra, cheia de fuligem por fora e tão limpinha por dentro do uso diário que lhe é dado durante grande parte do ano, durante várias gerações, continuou ao lume.
Hoje só em ocasiões muito especiais é que se utiliza.

Estando a panela já arrimada ao lume com a água necessária, antes de ferver botam-se-lhe os ingredientes: batatas bem descascadas, couves não migadas mas ripadas à mão, nabiças ou feijão verde (conforme a época), cebola e alho, uma folha seca de loureiro, um tomate descascado e uns raminhos de hortelã e poejos. Junta-se uma farinheira e uma morcela (se for a seguir à matança do porco, pode juntar-se um osso, dando à sopa um outro sabor)
Tudo deve cozer em lume brando, demoradamente (mais de uma hora). Depois, o enchido e os ossos são retirados e, pacientemente, com uma colher de pau e um garfo, as batatas são esmagadas. No caso de não haver enchido, falta juntar o tempêro, sal e azeite, deixando a panela em cima das brasas para mais umas fervuras.
Fica assim pronto o saboroso caldo, um pouco espesso mas sem ser puré, que é meio sustento.

A Gastronomia da Beira Baixa



A gastronomia


A província da Beira Baixa também é riquíssima na sua regionalidade gastronómica.

O seu património gastronómico não pode deixar de ser a influência do solo e do clima, mostrando como o Homem se relaciona com a Natureza.

Como refere Jaime Lopes Dias, na sua compilação "Etnografia da Beira" (11 volumes), os antigos tinham a mesa como sagrada e é à sua volta que a família se reúne e se estreita a amizade a e hospitalidade.

Estrabão, ao referir-se aos Lusitanos, escreveu: "Comem principalmente carne de cabra e na quarta parte do ano, os montanheses não se mantêm senão de bolotas, que secas e trituradas, transformam em farinha da qual fazem pão, o qual pode guardar-se durante muito tempo".

Não restam dúvidas de que o modo de produção e os próprios produtos da economia de subsistência que marcaram esta região durante muitos séculos, moldaram a alimentação.

Dando um salto para os finais do séc. XIX, quando o rei D. Carlos se deslocava à Beira Baixa para a caçada ao javali, o seu ajudante, General Filipe Malaquias de Lemos, conhecedor da região, recomendava em relação ao que o rei devia comer:

"... acho de primeira ordem a orelheira, a miga e o feijão frade e tudo o mais que for beirão...

No menu, falta fruta e talvez uma morcelinha assada no espeto estivesse a calhar!

Não vale a pena ir peixe de Lisboa.

É preferível arranjá-lo aí no Ponsul ou no Tejo...

Comidas e bebidas...tudo daí, com o pão das Beiras e o vinho da terra... " *


De facto, foi à volta dos produtos da região que se foi enriquecendo a criatividade e o engenho gastronómico da população da Beira Baixa, dentro da fragilidade e temperança que caracterizou o viver da nossa gente.

Quanto ao pão, elemento essencial das refeições da Beira Baixa, era feito até há pouco tempo, sobretudo de farinha de centeio, tendo sido antes utilizada a bolota, a castanha e a farinha de milho (broa).

A par da importância do pão, está a sopa ou o "caldo" que, cozido lentamente na panela de ferro no lume da lareira, juntando a batata e os legumes da horta e secos, cebola e alho, temperado com carne de porco (da salgadeira ou enchidos) ou apenas com azeite, constitui um alimento substâncial e muito saboroso.

Em relação à fruta, para além da fresca (maçãs, pêras, cerejas, pêssegos) o destaque vai para a azeitona, a castanha (cruas, cozidas, assadas ou piladas) os figos maduros ou secos (passas de figos) as bolotas de azinho (que ainda hoje se assam ou cozem como as castanhas e são um verdadeiro pitéu) e os medronhos.


* - Jaime Lopes Dias - "O Rei D. Carlos na Beira", pág. 11


sexta-feira, 16 de maio de 2008

Os Costumes - 2

Os Costumes - 2

Outros usos e costumes se podem ainda encontrar na Beira Baixa.
De caracter religioso, encontramos a Festa do Espírito Santo, largamente implementada pela Rainha Santa (séc. XIII) e que ainda perdura, embora com algumas modificações.
Encontramos também as festas aos Santos Populares, na triologia de Santo António, São João e São Pedro, realizadas no mês de Junho.
Destas festas populares, falarei mais tarde.

Com caracter de culto pagão, vamos encontrar as "Maias".
Em Maio, começo do ano em tempos primitivos, celebra-se a "vida nova". Para festejar o "retorno à origem", grupos de rapazes saiem para o campo, onde colhem ramos do Maio (giesta) e se enfeitam. Antigamente, cobriam um deles com flores dos pés à cabeça e percorriam a aldeia cantando e pedindo castanhas ou dinheiro.
Em algumas aldeias fazem bonecos de palha ou trapo, que cobrem de giestas e colocam às janelas e nos campos para se protegerem das trovoadas (Monsanto)

O princípio de Agosto é muito importante, porque traz as "canículas".
É através delas que se faz a "previsão metereológica" para todo o ano seguinte. Na parte oriental da Beira Baixa, as "canículas" são contadas de 1 a 13 de Agosto. Já na parte ocidental, vão de 15 de Agosto a 28.
O 1º dia diz como será o ano, o 2º dia vai corresponder a Janeiro, o 3º dia a Fevereiro e assim por diante.

Na altura dos Santos (1 de Novembro), é uso as raparigas oferecerem aos noivos e namorados um folar, que eles retribuirão na Páscoa com um saquinho de amêndoas.
Nos proclames do casamento, costumam os noivos oferecer aos amigos, vinho e tremoços.
A festa de casamento também tinha contornos interessantes.
No dia do casamento, o noivo e convidados dirigiam-se à casa da noiva. Era uso encontrar a porta fechada. O noivo batia à porta e o pai da rapariga atendia:
- Quem é e o que deseja? (pai da noiva)
- Sou Fulano... e procuro mulher, honra e fazenda! (noivo)
- Entre, que tudo encontrará! (pai da noiva)
Agora já não se trocam estas frases. A noiva sai de casa pelo braço do pai e assim se dirige à igreja, seguida dos padrinhos e dos seus convidados. O noivo, padrinhos e convidados deste, vão atrás, fechando o cortejo.
Após o casamento, os noivos agora lado a lado, encabeçam o cortejo que deve regressar por uma rua diferente. À porta dos noivos ou dos padrinhos, disputa-se a "rebatina". "Rebatina" é a distribuição pela rapaziada de tremoços, rebuçados e amêndoas.

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Os Costumes - 1

Os Costumes - 1



Na noite de Ano Novo é de uso, em muitos locais, manchar as portas com farinha. Este costume relembra o "milagre das portas", que se conta como sendo passado logo após o nascimento de Jesus. Um soldado de Herodes conseguiu localizá-lo e marcou a porta com farinha, pois era de noite e ele não conhecia bem aqueles sítios. Quando voltou com mais companheiros,terá achado todas as portas marcadas e teve de desistir da busca.
Também é costume cantar as "Janeiras" pelo Ano Novo ou na noite de Reis (6 de Janeiro).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Janeiras

Carnaval na Beira

Antigamente, pelo Carnaval, era costume juntarem-se grupos de rapazes que, subindo aos lugares altos das povoações, "choravam o Entrudo".

Consistia essa brincadeira em fazer uma série de sátiras em verso, aos vizinhos e outros habitantes da região. Claro que os do grupo procuravam disfarçar a voz e por isso falavam, geralmente, através de um funil.

Na zona da Sertã era costume "repartir o burro". Consistia na distribuição das partes do burro (teoricamente) pelas pessoas e situações que se queria criticar.

http://poesiaquesinto.blogspot.com/2008/01/repartir-o-burro.html

Na Quaresma é costume, que ainda se realiza na maior parte das aldeias e das vilas, fazer a "encomendação das almas". Há um grupo que canta versos alusivos e outro que responde, rezando. Em muitos locais o Pai Nosso do responso é rezado em silêncio nas casas. Também deu origem, em algumas povoações, a uma procissão de penitentes. Em alguns sítios, realizam-se à noite e com grupos restritos. Noutros, durante o dia. Em S. Vicente da Beira, a Ordem Terceira de S. Francisco comemora os grandes dramas da Paixão com diversos actos e uma solene procissão, já secular, chamada Penitência. Realiza-se de tarde e nela participa todo o povo da região.




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terça-feira, 13 de maio de 2008

Os Costumes



Os Costumes




A região da Beira baixa viveu muito isolada durante séculos. Os usos e costumes passavam de pais para filhos pelo exemplo das suas práticas, enquanto as lendas e tradições iam sendo transmitidas ao serão, junto à lareira.
Essa situação está hoje muito alterada pelos factores do progresso. Há, no entanto, ainda usos e tradições de raízes tão profundas que têm conseguido sobreviver.

Pelo Natal é costume queimar-se, no adro da Igreja, um grande madeiro (1) que se destina a aquecer o Menino que vai nascer e evitar que haja gente com frio nessa noite (2)



.http://dias-com-arvores.blogspot.com/2004/12/madeiro-do-natal.html





A forma de encontrar o “madeiro” varia de terra para terra. Em algumas, faz parte da tradição que seja roubado, noutras é alguém que o oferece, por promessa.
No primeiro caso, e para que não se saiba quem o roubou, vão de noite, os homens embuçados e cobrem com mantas os bois que puxam o carro (hoje, esta prática está em desuso. Nas terras que ainda acendem o madeiro, este é trazido pelos grandes proprietários em tractores e colocado no adro da Igreja). Em algumas terras da raia, era costume os moços mancebos (3) saltarem a fronteira para roubarem o madeiro do lado espanhol.
À meia-noite, em todas as povoações, o povo aproximava-se do madeiro acesso, dançavam e cantavam em redor da fogueira e provavam as filhós (4).
Nos concelhos onde não era costume queimar-se publicamente o madeiro, fazia-se em cada casa uma bela fogueira na lareira, que ficava a arder toda a noite. Deixavam também a candeia acesa e a mesa posta com filhós, para quando o Menino chegasse, poder encontrar agasalho.

(1) – Madeiro – Normalmente composto por grossos e volumosos troncos dos sobreiros mais secos, velho e carcomido e que já abrigou, no seu seio, dezenas de gerações


(2) O calor emitido pelo braseiro era tal, que chegava a fazer arder as portas das igrejas…todo o adro ficava aquecido… Há ainda hoje povoações onde o tradicional madeiro faz parte integrante do Natal, como o Presépio e a respectiva árvore (pinheiro enfeitado).

(3) Mancebos – o grupo de rapazes que entravam nesse ano para a recruta militar eram que estava encarregue de “roubar” o Madeiro… Na raia com Espanha, a aventura consistia em passar a fronteira (clandestinamente) e trazer o madeiro previamente localizado e escolhido (o que implicava várias idas ao território vizinho). Esta tradição, provavelmente, remonta à Idade Média, representando a eterna rivalidade entre Portugal e Espanha.

(4) Filhós – Tipo de doçaria própria do Natal. Desde o amassar até à fritura, era o trabalho das mulheres, enquanto os homens tratavam do madeiro.


segunda-feira, 12 de maio de 2008

A fauna Beirã


O lince ibérico - na região da Beira Baixa, o lince está confinado à serra da Malcata, com poucos casais reprodutores.


A Fauna Beirã



Fauna cinegética -




Afora os voláteis de pequeno e médio porte (pardais, corvos, melros, etc.), a Fauna beirã baseia-se nos espécimes herbívoros e carnívoros, típicos das zonas mediterrânicas: coelho, lebre, raposa, lontra, lince, águia, lobo e javali. Estes quatro últimos quase extintos.




Os caçadores, os incêndios e o aumento populacional (séc. XVIII e XIX), ou os afugentaram ou liquidaram. De realçar os resultados e a nomeada das caçadas reais ao lobo e javali, que o rei D. Carlos levava a efeito na Isna, Monfortinho e Malpica do Tejo.




É também de referir que a zona do Tejo Internacional é o reduto da cegonha negra, na Europa.








Fauna venenosa -




Afora a crendice supersticiosa e geralmente indocumentada, devemos reparar na usança do povo ao dizer " Se a víbora ouvisse e o liso visse, ninguém existia no Mundo". Deve-se referir que na Beira Baixa, tal como em quase toda a faixa mediterrânica, se encontram animais cuja mordedura, além de dolorosa, pode ocasionar a morte.




Estão neste caso, e pertencendo à ordem dos répteis,: a víbora e o licranço (cobra de vidro ou liso).





Da família dos aracnídeos, existe a tarântula, o escorpião e a centopeia.



Além destes, e menos perigosos, ainda se encontra a sanguessuga, o sapo, a osga ou saltarroscas, e a salamandra.




Do grupo dos insectos, encontramos a vespa, a abelha, a torresma e a mosca dos bois.





A Flora beirã - 2


Foto tirada do alta da serra da Gardunha - note-se o início da Campina de Idanha, em baixo


A Flora beirã - 2


Retalhando a Beira Baixa (por isso também é conhecida por "manta de retalhos"), conforme a realidade da sua dispersão geo-florestal, notamos a Norte uma paisagem granítica e fria, onde predomina a urze e outras herbáceas, que constituem óptimas pastagens naturais. Grandes soutos e lameirões alcantilados, onde coabita a vinha de bacelo e de ramada.

Região propícia à actividade pastoril, resulta em apreciados produtos como : queijo, carnes, lãs e peles, cuja industrialização originou o progresso das cidades aí localizadas (hoje em franca desertificação, devido ao encerramento das referidas indústrias).

As baixas, citas entre a Gardunha, Malcata e Estrela, nos concelhos da Guarda (já Beira Alta), Fundão e Covilhã, a chamada Cova da Beira, são habitat de vinhas e frutíferas, marginadas pelo sempre verde e omnipotente pinheiro.

Da zona, são famosos os frutos, principalmente cerejas, maçãs e pêssegos, e os vinhos das Adegas Cooperativas do Fundão e Covilhã.

Para Sudoeste, abarcando Mação, Vila de Rei, Proença-a-Nova, Pampilhosa da Serra, Oleiros, Sarzedas e Sertã, deparamos com a zona de implantação do pinheiro bravo que, incorporando-se à Lousã e à Beira Litoral, se afirma e é, considerada a maior mancha de pinhal (particular) da Europa.

Dos limites, a Nascente dos concelhos de Proença-a-Nova, Oleiros e Fundão, obliquando à freguesia de Alpedrinha, e daí pelo concelho de Idanha-a-Nova a toda a extensão da serra da Malcata até à ribeira de Alge e por toda a linha de fronteira, deparamos com a Beira tipicamente raiana.

Transição da Beira verdejante para o Alentejo e Estremadura Espanhola, terrenos ressequidos e chãos, região quente e seca, habitat da oliveira, sobreiro, citrinos, trigo, vinha de bacelos, rosmaninho e do carapeto árido e agressivo. Cabeços redondos e peneplanálticos, ora desnudos ora cobertos de estevas onde, de longe em longe, desponta uma ou outra azinheira a par de um moitoço de pilriteiros ou cavasqueiros raquíticos, matizados pelo negrume duro e apedrejado do granito.

É deveras assombrosa a variedade micro-climática e microgeológica da Beira Baixa.

A Flora beirã - 1



A Flora beirã - 1




Da famosa e iberíssima vinha céltica, poucas cepas podemos encontrar nesta zona, bem como em toda a Beira Baixa.


O aparecimento do míldio minou toda a seiva a essas ramadas. A testar o gigantismo dessas cepas, pode apontar-se a afirmativa de vizinhos que se referem à existência de dois exemplares:


Um, existente no lugar do Dão, próximo de Várzeas, no concelho de Oleiros, propriedade actual do Sr. João Ramos(1), da referida aldeia. Empoleirada num sobreiro, chegou a produzir num só ano, a astronómica quantidade de vinte e dois almudes (550 litros).


O maior exemplar de que há memória e que foi a muita gente dado a conhecer já raquítico e carcomido, situa-se em Cambas, freguesia do concelho de Oleiros e conforme depoimento de pessoas mais idosas, produziu numa só safra, a enormidade de quarenta e cinco almudes. A sua ramada cobria todo o recinto do arraial das festas. Ainda hoje existe, definhado, e o proprietário, o Sr. Manuel Martins (1), natural do Roqueiro, é morador no lugar de Cambas.


No nosso país, o almude varia conforme as regiões, mas fazendo as contas com o almude a 25 litros, esta cepa chegou a dar 1125 litros só numa safra.


Actualmente ainda se pode saborear este tipo de vinho pouco incorpado e com um travo a verde, de uma cor aquosa, em muitas povoações do concelho de Oleiros.


Também na zona de Penafalcão se encontram algumas cepas de vides Colun, cuja produção mais modesta, é também digna de registo.




A Flora beirã espelha-se em grandes e ininterruptas extensões de pinhais, coabitando com o medronheiro, as estacas de oliveiras serranas, o tojo, o feto, o mato torgueiro, a carqueja, extensos olivais de oliveiras frondosas e seculares em terrenos de estevas, rosmaninho, carapeto, salva e carrasqueira.


Mas é sempre o verde e compacto pinhal, sombreando e enriquecendo vales e serranias, concorrendo com milho e horta, fazendo perigar a própria segurança das pessoas das localidades em alturas de incêndio, que se afirma o mais actual ex-libris Beirão.




Relevantes são, em qualidade e fama, os produtos derivados da oliveira, sobreiro, medronheiro, pinheiro e os derivados da sua capacidade apícola e frutícola.




(1) - Nota: esta pesquisa foi feita na década de 90. Daí o desconhecimento se estas personagem ainda são vivas.

domingo, 11 de maio de 2008

A Flora Beirã

Sertã - A predominância do pinheiro-bravo faz com que esta região seja conhecida por Zona do Pinhal


A Flora Beirã


Das seculares matas de medronheiros, castanheiros, azinheiras, carvalhos, sobreiros e cerejeiras, pouco resta.
Diferenças climatéricas ocasionaram uma maior amenidade aos Invernos e uma mais nítida estiagem em tempo de Verão. O desmoitamento e arroteamento imprescindíveis ao avanço da agricultura e pastorícia, o enfraquecimento dos terrenos, o aparecimento do míldio que grassou as vides Colun e as destruiu quase por completo, o uso indiscriminado de fertilizantes em terras frias, sem qualquer orientação técnica especializada, o arreigado vínculo às estruturas tradicionais, as minguadas retribuições da agricultura portuguesa, desde sempre a “irmã” mais desfavorecida da economia do País, tudo isto aliado a outros factores conjunturais da política de rendimento, obrigaram ao cerceamento e quase extinção dos soutos e azinhais, apontando para uma reflorestação de novas espécimes.
O pinheiro é hoje predominante e omnipresente. Não cai fora do velho plano governamental designado por Centralismo Metropolitano. Onde actualmente se transita por estradas florestais, as populações só há bem poucos anos começaram a vislumbrar o aparecimento do civilizado néon. Lugares onde, ainda hoje, as idas à fonte, as farmacopeias dos barbeiros e os partos assistidos pelas “entendidas” do povoado, são realidades do dia a dia. Ainda há lugares onde a geleira não substituiu a “salgadeira”, nem a assistência passa da Casa do Povo e os tratamentos urgentes se coam nas consultas da Caixa.
Na época da Fundação e consequente repovoamento do território, o desbravamento dos solos destinados ao cultivo de cereais e plantas hortícolas, era feito à base do fogo. Nesses tempos, e conforme historiadores credenciados, o paías parecia uma imensa fogueira propositadamente ateada, a fim de destruir os matagais e afugentar as feras.
Os tempos correram. A estabilidade política começou a ser mais longa e prometedora. O homem “aferrou-se” aos seus lugares de nascimento. A agricultura e pastorícia passaram a ser actividades geminadas, na rota do progresso e do bem estar. Aplicaram-se novas sementes e inventaram-se outras técnicas. Sementes e técnicas que influenciaram sistemas até considerados os mais rentáveis e entendidos.
Progrediu-se.
Dos prolíferos e frondosos soutos medievais, que se mantiveram atá há bem poucos anos atrás, resta-nos uma mísera sombra de castanheiros, aferrados a bolsas e vertentes dos barrocos mais frios e menos soalheiros. E para grande quantidade deles, os incêndios de Verão são a pira da existência. Felizmente que ainda encontramos na Beira Baixa, bons espécimes das tradicionais qualidades da castanha.
Por exemplo:
Longal – que é de todas a mais saborosa
Sidão – É maior e mais adocicada
Portelão – de sabor menos adocicado mas tão grande como a anterior
Temporã ou do Japão – castanha de fácil amadurecimento e a mais pequena de todas.



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sábado, 10 de maio de 2008

Um pouco de História - 1

Estrada romana que ligava Emérida (Mérida) a Bracara Augusta (Braga)


Egitânia – Idanha-a-Velha


É uma freguesia do concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, Diocese de Portalegre e Relação de Coimbra.
Está situada na margem direita do rio Ponsul (afluente do Tejo).
De casario granítico e ambiente pitoresco pelo notável conjunto de ruínas que conserva, ocupa um lugar de realce no contexto das Estações Arqueológicas do País.
Pode ser considerada, sem dúvida alguma, uma das mais antigas povoações de Portugal e possui ricos pergaminhos históricos, entre os quais o de ter sido berço natal do famoso rei dos Visigodos, Vamba.
Na verdade, onde hoje se ergue Idanha-a-Velha e segundo investigações históricas, situava-se antigamente a florescente cidade de Egitânia, que foi capital dos Egaeditani, povo pré-romano assim denominado devido à sua divindade principal, o deus Igaedus. Remonta ao tempo dos Lusitanos e existia já no ano 16 a.C., porque nessa data um cidadão de Augusta Emerita (Mérida), Quinto Itálio, doou à cidade um relógio.
A cidade de Egitãnia teve um grande desenvolvimento na época de Augusto, na sequência do estabelecimento da colónia de Nerba Caesarina (Cáceres - Espanha).
Situada sobre a grande via romana Emérita (Mérida – Espanha) – Bracara (Braga), na proximidade de importantes minas de ouro, a “civitas” cresceu em importância e cumpriu da melhor forma o que a administração imperial dela esperava, ascendendo ao estatuto municipal sob os imperadores Flávios, no último quartel do século I.
Perto de Egitânia, na povoação de Medelim para noroeste, existiu um acampamento permanente fundado nos anos 70 a. C., por Q. Cecílio Metello Pio.
Igaeditania ou Egitânia (não é conhecido o nome próprio da cidade), foi simples oppidum (era o termo em latim para a principal povoação em qualquer área administrativa do Império Romano) governado por quatro magistri. Deduz-se assim que a população da nova cidade lusitana era, no essencial, constituída por naturais da região e não por cidadãos imigrantes, qualquer que fosse a sua origem, itálica ou hispânica.
No final do séc. III ou início do séc.IV, foi levantada uma muralha, posteriormente muito modificada e reconstruída pelos Templários, deixando parte da cidade no exterior da cerca.
No período visigótico, conserva a sua função administrativa como sede de um episcopado e de uma oficina monetária. Deste período e testemunho importante é, sem dúvida, o baptistério, a que devemos juntar algumas belas pedras lavradas.
Sem podermos precisar o que se passou, sabe-se que a invasão muçulmana marca o início da longuíssima agonia de Egitânia como centro populacional, perdendo definitivamente a sua razão de ser na forma administrativa. Nenhuma das tentativas revivificadoras levadas a cabo por D. Afonso Henriques, D. Sancho II (que lhe deu foral), D. Dinis e D. Manuel (que lhe concedeu um segundo foral), resultaram.
Do Passado, pouco resta. A própria catedral de Egitânia, abandonada e em ruínas, acabou por ser transformada em cemitério.
O afastamento dos grandes eixos de comunicação, o fraco valor militar do local e sem a alternativa de uma economia desenvolvida, contribuíram decisivamente para que a região se transformasse num sítio exemplar onde a poesia das coisas não pode fazer esquecer o drama dos Homens.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Algumas imagens - 2

Uma das estradas da villa de Egitãnia (Idanha-a-Velha)




Uma das portas secundárias das antigas muralhas de Idanha-a-Velha - reparem como ainda está soterrada e o que ainda falta fazer em termos arqueológicos




Algumas imagens - 1

Construção visigótica, recuperada e que actualmente é um Museu de lápides e aras, encontradas na região



Fachada principal da antiga Sé Visigótica - Idanha-a-Velha




Algumas imagens...

Casa senhorial de Idanha-a-Velha - reparem no pormenor arquitectónico das varandas



Pelourinho de Idanha-a-Velha (Egitânia)





quinta-feira, 8 de maio de 2008

Um pouco de História



Um pouco de História



A Beira Baixa foi habitada desde idades remotas.
Antas, grutas e inscrições rupestres há-as em quase todos os concelhos, tanto nos do norte como nos do centro e sul.
As ruínas de Egitânia, que foi sede de bispado no tempo dos Visigodos e grande centro de civilização luso-romana, as moedas encontradas às centenas em Monsanto, Aldeia do Bispo, Vale de Lobo, etc., não deixam dúvidas sobre a importância que as terras da Beira Baixa atingiram em épocas passadas.
Se dos tempos primitivos passarmos aos séculos que antecederam e se seguiram à Era de Cristo, encontraremos em vários pontos do seu território pontes romanas e restos de grandes explorações mineiras.
Notícias mais ou menos seguras apenas existem as que se referem à velha Sé episcopal de Egitânia, destruída pelos Suevos, reedificada pelos Godos, novamente destruída pelos Árabes.
A ocupação árabe é ainda hoje atestada por dezenas de curiosíssimas lendas de mouras encantadas e pelos próprios nomes de povoações: Alcafozes, Alcaide, Alcaria, Alpedrinha, etc.
Estas vicissitudes devem ter atingido o povoado que antecedeu Castelo Branco. Em 1165, D. Afonso Henriques fez doação da região à Ordem do templo.
D. Sancho I confirmou a doação em 1198.
Em 1209 Fernando Sanches doou aos Templários metade das terras onde teria existido uma cidade romana. Em 1214 porém, a parte que esse dador para si reservara estava já em poder da coroa, visto que em 1 de Novembro desse mesmo ano, D. Afonso II fez nova doação dela aos Templários. Chamava-se nessa altura Vila Franca da Cardosa.
Os Templários edificaram o castelo com grande solidez, sendo por isso considerado “praça forte inexpugnável”. Cientes de que as ruínas que lhes doavam eram da velha “Castra Leuca”, passaram a denominá-la Castelo Branco, tradução portuguesa do antigo nome.
Em 1252, o Mestre do Templo, D. Pedro Alvito, concedeu-lhe o primeiro foral.
Davam-lhe acesso quatro portas, sendo a torre de menagem em forma de polígono heptágono, com as armas de Portugal de um lado e do outro as dos Templários. Na esquina de uma das torres do castelo, havia uma pedra que fazia parte do cunhal, onde se via esculpido um falo que “tinha por fim, parece, evitar o mau olhado” (Leite de Vasconcelos)
A importância que lhe deu a poderosa Ordem Militar e o facto de dominar uma região agrícola de larga produção, levou D. Dinis, em 1319, a defendê-la com muralhas, nas quais se abriam dez portas, que persistiram até 1835, ano em que foram demolidas.
Depois dos Mouros, os Templários e as freiras da Ordem de Malta, deixaram o seu nome na história local, pelo auxílio que prestaram aos reis na defesa das fronteiras e na edificação de lugares como Idanha-a-Nova, Idanha-a-Velha, Monsanto e várias.
Também não faltam na Beira Baixa figuras destacadas nas páginas da História, das Artes e das Ciências.
Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache do Bonjardim; Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil, nasceu em Belmonte; Pêro da Covilhã e Heitor Pinto são naturais da Covilhã; Pedro da Fonseca, o “Aristóteles” português e grande sábio, era natural de Proença-a-Nova; Afonso de Paiva e João Rodrigues, o “Amato Lusitano” nasceram em Castelo Branco; Ribeiro Sanches, médico famoso, natural de Penamacor; José Silvestre Ribeiro, escritor e Jurista, natural de Idanha-a-Nova… e muitos mais que escreveram o seu nome em feitos, quer históricos como científicos e na Arte.

A Vida Pastoril

Rebanho a caminho da Serra - imagem antiga

A vida pastoril


A principal ocupação das gentes da região é a pastorícia.
E como seria esta actividade, antes das modernas técnicas aplicadas à pecuária?

O ano pastoril ia de S. Pedro (29 de Junho) a s. Pedro (29 de Junho do ano seguinte) e os pastores ajustavam-se para servirem por um ano, que começava e terminava naquela data. A soldada era feita em dinheiro, em géneros e em regalias de diversa espécie.
Por volta de 1914 a soldada de um pastor era composta de:
24 centavos para condutos (alimentos vários)
1 fanega (64 litros) de centeio
2 litros de azeite
8 litros de feijão pequeno (também conhecido por feijão frade) para cada mês
A “pergulhal” ou “povilhar” – direito a apascentar 500 ovelhas suas (se as tivesse) com as do patrão
A “forra” – direito a tirarem 8 a 10 borregos dos patrões, os primeiros que saírem por dois cantos ou ângulos do bardo. O patrão tinha o direito de escolher um dos cantos e o pastor, outro. O pastor costumava ensaiar os mais avantajados para logo que abrisse os cantos saírem em primeiro lugar.
Quando não tinham “pergulhal” ou “forra”, a soldada em dinheiro era maior, como maior era a pergulhal do maioral ou guarda mais graduado das casas que tinham mais de um rebanho.

Em princípio de Novembro o rebanho era dividido em 2 grupos: o “vazio”, composto pelos machos e jovens que ainda não procriavam, e o “alavão” composto pelas fêmeas que já têm crias ou que dão leite. O pastor precisava então de uma ajuda (ou de um alavoeiro) para guardar as ovelhas que dão leite.

Março.
Tempo das queijeiras e é necessário retirar os borregos para os juntarem ao “vazio”. Precisa agora também de um “roupeiro” para fazer os queijos. A exercer quase sempre esta função, estava a esposa dos pastor, que durante os referidos meses vivia permanentemente no campo, embora costumasse ir nos domingos a casa, buscar roupa e, pela semana, a cozer o pão que haviam de comer.
Criavam-se então, junto da malhada, galinhas, porcos, gatos e cães, destes os indispensáveis para a defesa da queijeira (gatos) e para a guarda do rebanho (cães).

Era assim… mas os tempos são outros.

Enquanto no princípio do séc. XX, o pastor vivia numa “choça” (cabana feita de palha) e não tinha preocupações com o pasto dos animais, pois havia em bastante quantidade mas usufruía pouco vencimento ou “jorna”, hoje é diferente pois já vive numa casa de tijolo com todas as comodidades e não necessita pernoitar no campo, junto ao bardo, trazendo o rebanho para área perto das habitações.
Mas tem a grande preocupação de procurar pasto, pois não o há, e tem de alimentar o gado a ração que, como dizem, é muito cara e os animais não dão o leite tão saboroso, indo prejudicar a qualidade do queijo e da própria carne.
Resumindo: o pastor anda mais kms que antigamente e mais preocupado, pois não vê os animais bem alimentados.

Campina de Idanha - descrição

Ponte romana em Idanha-a-Velha (antiga Egitânia, capital dos Visigodos)

Campina de Idanha


Na região da Campina ou Campo, estão englobados os concelhos de Vila Velha de Ródão, Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Penamacor.
Trata-se de uma extensa área de 368.000 ha em que predomina a aptidão florestal e o aproveitamento para a pastorícia (pequenos ruminantes, sobretudo na faixa fronteira com a Espanha).
Situa-se nesta zona alguns montados de sobro e azinheiras, com destaque para a zona malpiqueira (Malpica do Tejo).
De facto esta zona a sul, ocupando a área confinante com a reentrada do Tejo internacional e pela proximidade com o Alto Alentejo, tem já muitas semelhanças com este. Os solos graníticos, de um modo geral pobres, apresentam algumas manchas esqueléticas e xistosas que convém florestar, mas com espécies adequadas, regeneradoras do solo e não abusando do eucalipto.
Do ponto de vista agrícola, predomina a oliveira e os cereais.
A pecuária também é importante, sobretudo no que diz respeito à criação de ovinos e caprinos, dando origem a queijos afamados, com destaque para os queijos de ovelha (à ovelheira e à cabreira), e os de cabra, conhecidos por queijo amarelo ou picante.
Na Campina de Idanha está implantado o regadio que abrange cerca de 3.000 ha, onde se destaca a cultura do tabaco.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Beira Baixa - identificação geográfica

Jardim do Paço - cidade de Castelo Branco

A Beira Baixa



Se há em Portugal alguma província com uma psicose pronunciadamente colectiva, é a Beira Baixa.

Limita-se esta província pela linha de cumeadas que vai da Serra da Estrela à raia de Espanha e segue pela margem direita do Tejo até aos confins da Beira Litoral

Desde os horizontes extensos, quase sem limites, da alta serra das Neves (Estrela), com os seus gelos e chuvas abundantes, à planura quase sem relevo, de sol intenso e duro da campina de Idanha-a-Nova e às variadas e formosas serras do Sul (Comarca da Sertã), há na Beira Baixa muito para ser apreciado e visitado, como por exemplo, Monsanto, mole imensa de granito a dominar toda a região raiana.

Este lindo rincão da terra portuguesa, de 7.793 km2 e com uma densidade populacional aproximada de 39,6 habitantes/km2, encaixa-se entre a fronteira, o rio Tejo e um arco montanhoso constituído, de leste para oeste, pelas serras de Malcata, Estrela, Açor, Moradal e Alvéolos.
Constitui assim uma região que permaneceu fechada num compartimento geográfico, muito responsável pelos principais traços da sua economia e especificidades dos usos e costumes das suas gentes.

Situada no meio do País e não longe do centro da Península, variada em seus aspectos e panoramas, de clima temperado, sofre por vezes com a presença dos gelos eternos da serra da Estrela e a vizinhança da cálida e seca Castela-a-Velha… os rigores do frio e as asperezas do calor.

De um lado o sistema orográfico luso-castelhano e do outro os ventos “suão”, as temperaturas vão dos 0º invernais da Serra da Estrela, aos 30/40º escaldantes das ribas do Tejo.
Saudável por seus ares, com magníficas estâncias de cura em zonas de altitude, dispõe também de variadas águas minerais.

Formada geologicamente, na sua maior parte, por terrenos xistosos (paleozóico-cambriano) e rochas eruptivas (granito), apresenta em áreas menores o lacustre e o diluviano (rochas sedimentares).
Esta variedade de solos, aliada à posição geográfica, consente grande variedade de culturas: cereais, pomares, montados de sobro e olivais, constituindo o azeite, quer pela sua qualidade, quer pela quantidade, uma das melhores riquezas da economia local.

A região é cortada de NE para OE pelo rio Zêzere e limitada a sul pelo rio Tejo. A fronteira leste é constituída pelos rios Erges e Torto. As margens destes rios, contíguos a Espanha, são quase sempre escarpadas e de difícil acesso, com algumas aberturas próximo de Penamacor, entre Penha Garcia e Monfortinho e próximo de Segura. Tais aberturas constituíam pontos privilegiados para o contacto social entre os dois povos vizinhos. De facto, em Segura existia um posto fronteiriço e a passagem a vau é fácil em Monfortinho.

A meio da Beira Baixa, a serra da Gardunha estende-se de leste para oeste, seguidas das serras do Moradal e Alvéolos, a separar Proença-a-Nova da Sertã e ao sul, a fazer as Portas de Ródão, sobre a região do Perdigão.

Atendendo a que as fronteiras naturais da Beira Baixa são difíceis de estabelecer, considera-se apenas a sua parte mais central, que coincide, em termos de organização administrativa do território, com o distrito de Castelo Branco. Mesmo assim, a diversidade paisagística e cultural é bem evidente, podendo considerar-se três sub-regiões bem distintas: Charneca ou Pinhal, Cova da Beira e Campina de Idanha, também conhecida pela Beira Alentejana.

Pequena Biografia...



Nasceu no Rosmaninhal, uma pequena vila sede de freguesia, do concelho de Idanha-a-Nova, Castelo Branco, no dia 15 de Março de 1927.
Neto de pastores (avós maternos) e de agricultores (avós paternos), sentia muito orgulho na sua gente e origens.
Sua mãe, Joaquina Caldeira, era a filha mais velha de João Martinho Freixo e de Teresa Caldeira, pastores de ovelhas dos proprietários da região. Nunca foi à escola, não sabia ler nem escrever, mas era uma Senhora, com o comportamento de quem sabia o que a Vida valia. Soube educar dois filhos (o meu pai, o mais velho, e o seu irmão João), dando-lhes uma Educação que muita gente “fina e culta” não tem.
Faleceu depois do filho, com 92 anos de idade.
Seu pai… Ah! O seu pai… Aleixo Torres… Era o 3º filho de António Torres e de Maria Cardosa, agricultores pobres, que viviam de uma agricultura de quase subsistência, mas com honra, trabalho e esforço, conseguiram adquirir algumas casas rústicas e terrenos de cultivo.
Era Guarda Fiscal, pouco tempo tinha para dar apoio aos filhos, mas esse pouco tempo era tão precioso, tão rico, que nos enchia a alma e nos despertava para a procura do desconhecido. Era um desses filósofos populares, anónimos, como muitos que passam despercebidos. Eu tive a sorte de ter sido criada até aos 5 anos, com este meu avô, já reformado, que me ensinou muita coisa sobre a Vida, e ainda hoje sinto saudades dos momentos passados com ele.
E foi deste meu avô que meu pai herdou o gosto pela escrita, a curiosidade do “aprender”, a vontade de pesquisar…
E foi nesta família que nasceu António Torres Caldeira, meu Pai!
Criado até aos 10 anos na Figueira da Foz, onde fez a 4ª Classe, a família passa depois para Lisboa, onde meu Pai frequenta a Escola Industrial Afonso Domingues, em Xabregas. Aí concluiu o Curso de Desenho.
Faz tropa em Évora, como furriel miliciano, em 1947.
Casa em Setembro de 1952 com Maria José Pereira Lobato, também nascida no Rosmaninhal, uma mulher extraordinária, com mãos de fada, paciência de santa, um coração cheio de amor que transborda pelos olhos e uma alegria contagiante. É esta mulher, a minha mãe, que o acompanha toda a vida (44 anos) na alegria e na tristeza, nas horas boas e más, nos sobressaltos e sossegos.
Em Agosto de 1953 nasço eu, filha única, “menina dos olhos” do pai, que me soube educar com amor e respeito.
Em 1960 o meu pai é convidado para pertencer à Brigada de Estudos do Porto de Luanda, para onde embarca com a família.
Suportou em Angola duas guerras: 1961 e 1974/75.
Não enriqueceu, não explorou ninguém, nem nunca o vi deixar de ser humano para com todos.
Em 1975 regressa a Portugal na “Ponte Aérea” (voo 32) em 17 de Agosto e integra os Adidos (Funcionários Ultramarinos no Activo).
Em 1976 faz parte do grupo inicial que cria o GAT (Gabinete de Apoio Técnico) na Sertã, onde se manteve até à Reforma (65 anos de idade e 36 anos de serviço)
Durante toda a minha vida tive a sorte de conviver diariamente com estas almas, tão ricas de sentimentos.
Após a Reforma, inicia a escrita de um trabalho que ele próprio intitula “Monografia da Beira Baixa”.
São assim os dias de meu Pai.
Leitura e escrita.
Um autodidacta.
Em 27 de Outubro de 1997, morre a mulher que o acompanhou sempre e que era a “alma” da casa.
Meu pai não resiste ao desgosto:
Definha dia a dia.
Até que, em 29 de Dezembro de 1998 fecha para sempre os seus bonitos olhos grandes e verdes.
Fiquei só.
Agarro-me às recordações deixadas por ele nos manuscritos que encontro.
Que esta compilação do seu trabalho sirva para que os seus bisnetos saibam que Homem foi o seu Bisavô!